Quem pratica Fotografia conhece certamente o efeito que o nível de Exposição dado ao material sensível exerce sobre o aspeto da imagem captada. Conhece, igualmente, a reduzida margem para falhas que o processo fotográfico nos permite, sob pena de arruinarmos as nossas fotografias, só porque as expusemos mal. Deve, por outro lado, saber que a cada três clicks (por norma) dados com a roda de introdução dos valores de abertura relativa (ou de diafragma) ou do tempo de exposição, esta é duplicada ou reduzida para metade, dependendo do sentido dessa rotação. Em todo o caso, a partir do momento em que com determinada combinação de abertura, tempo e sensibilidade, se obtém a designada exposição correta, qualquer alteração num daqueles valores provoca um desequilíbrio que, se não for adequadamente mitigado, foge do nosso controlo. Por isso, a fronteira que delimita uma fotografia harmoniosamente exposta, saudavelmente iluminada e, como tal, agradável de se desfrutar, é facilmente ultrapassada se não tivermos plena consciência das escolhas que fazemos (se estivermos a trabalhar em modo manual), ou das escolhas que algo exterior a nós (a câmara) possa estar a fazer, à nossa revelia, como é o caso quando usamos, por exemplo, o modo totalmente automático. Vem esta introdução a propósito do presente momento, inédito nas nossas vidas, em que nos vemos confrontados com algo inesperado, fora do nosso controlo, que é esta pandemia de uma doença nova, chamada Covid-19. A sua evolução, porém, é enquadrada por modelos de comportamento bem conhecidos e exibe, até, grandes semelhanças com o funcionamento do processo fotográfico quando - voluntariamente, ou não - nos distanciamos daquelas condições de harmonia e equilíbrio que permitem a correta exposição das nossas fotografias. Façamos, então, um exercício para tentar estabelecer algum tipo de paralelo entre o comportamento de ambos os fenómenos, e observemos os resultados. Para facilitar essa tarefa, tomemos como exemplo a escala de aberturas de diafragma, entre os valores f:1 e f:32, por exemplo, o que nos dá uma diferença de exposição, entre aqueles dois valores, de 10 EV (espaços ou pontos). Admitamos que a situação fotográfica que temos entre mãos exige - para os valores de sensibilidade e tempo de exposição que tenhamos predefinido - uma abertura relativa de f:32, para obter a exposição correta. O que acontece, então, se em vez desse número f:, usarmos f:8, f:2 ou, mesmo, se formos suficientemente afortunados, f:1? A resposta é fácil: a exposição resultará 16, 256 ou 1024 vezes (respetivamente) mais forte do que o desejável. Para quem lide pouco com estas coisas da matemática, tudo isto pode parecer inverosímil. Como é possível que uma variação tão pequena dos valores numéricos de f:, tenha tão colossais repercussões no aspeto da imagem? A resposta a esta pergunta já foi dada no segundo parágrafo. Agora, reparemos no que acontece com a variação do número de infetados com o vírus causador da Covid-19, tomando como referência a média da taxa diária de aumento do número de novos casos, na última semana, que se situa em 27%.
Uma sobre-exposição de 10 EV, nas mesmas circunstâncias, transforma em brancos puros, sem detalhe, até as sombras mais profundas do Assunto fotográfico. Isso mesmo é visível na sucessão de imagens que aqui apresentamos. Repare-se como rapidamente deixamos de obter imagens aproveitáveis, se nos afastarmos muito, praticando erros de exposição, da situação de equilíbrio, representada pela imagem inicial (0 EV).
A disseminação da Covid-19, tal como a analisámos, isto é, com os dados disponíveis à data desta publicação, segue um comportamento ainda mais agressivo, partindo do princípio de que nada seja feito para diminuir aquela taxa de crescimento médio diário.
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Março 2020
José L. DinizFormador e divulgador de Fotografia, fotógrafo. Categorias |